Novo Single: Severino

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Nas plataformas de música, Spotify, Google Play e Deezer, Hal Wildson, artista visual autoditada, que investiga a incompletude humana através dos aspectos da palavra, memória e consciência social, assina a arte de apresentação do single Severino: O catador. A animação para o Youtube reforça a persistência do catador, empurrando o carrinho em sua luta diária, cujos passos trazem o peso de levar o mundo nas costas. Ela foi criada por William Louro, proponente do projeto "Pedras de Ouvido", que vem animando capas de discos brasileiros nas redes sociais.

Esses dois artistas visuais trabalharam tão conectados na criação de uma imagem quase viva de Severino, que é possível ver o quanto William dá peso aos passos do catador. E consegue isso porque o design do artista Hal apresenta o contraste do vazio e minimalismos no cenário, além de silhuetas, de forma tão intensa que remete o expectador à vida presente no recorte: o catador, a carroça e o lixo. Hal conta que quando ouviu a canção Severino, procurou se apropriar de toda a habilidade possível para contar essa história. Ele tencionou eternizar a imagem e a vida do catador, como um “símbolo de resiliência e esperança em um mundo caótico”, conforme suas palavras.

Desde o início desse ano, a banda Chá de Gim vem priorizando os trabalhos de produção musical. Não deixou de fazer shows, concedeu entrevistas, tocou no Festival Bananada. Porém reservou maior parte do seu tempo para se concentrar nas novas músicas, tanto em criação de melodias, harmonização, arranjos, quanto ensaios e gravação. Entre as músicas que irão compor o novo CD, Severino se singulariza, marcando os trabalhos da banda com um toque especial. A música Severino chegou a ser considerada por Caramuru, guitarrista da Chá de Gim desde a sua formação em 2014, como parte de um processo de aprimoramento da banda.

Diego Wander compôs Severino em uma espécie de lenda urbana, que retrata a resiliência do morador de rua. Muitos deles são de origem nordestina, o que faz alusão ao personagem homônimo de João Cabral de Melo Neto. No poema-conto do escritor, Severino sai à procura de um meio para sobreviver à seca do sertão e, por onde passa, só encontra a morte e pessoas tirando o seu sustento dos subprodutos dela. Mas ele acaba por presenciar a vida se sobressair com a sua persistência. Criatividade incrível, própria do refinado bom humor literário. Os subprodutos da vida urbana também dão emprego àqueles que, não tendo qualificação para o mercado de trabalho, se engajam como catadores.

O Severino criado por Diego Wander tem a mesma força extraordinária para sobreviver nesse mundo cão. Ele é capaz de se refazer a cada momento com a música. E “aprende a voar”, se for preciso. Momento de grande emoção melódica trazida por uma rápida subida na afinadíssima voz de Wander, que canta “mas eu não, só que eu não”, e logo em seguida entra o solo de guitarra. “É muito libertador nessa parte da música Severino, porque digo não. Simplesmente, não posso aceitar tanto sofrimento imposto à gente pobre”, como ressalta Diego Wander, “essa música tem uma mensagem fortíssima, mas é um peso muito grande a gente ser esperançoso quando tudo está indo mal, lembro-me o que disse Carlos Brandão: ‘À beira do abismo é duro ser só ternura’.”

Ao comentar o processo de criação, os músicos da Chá de Gim revelam que, como é de praxe, eles trabalham as composições do vocalista Diego Wander, e quando uma delas cai no gosto geral dos seus integrantes, é bem natural: todos começam a tocá-la nos seus instrumentos, vão logo montando um arranjo para ela. E brota um ar muito feliz de que aí desabrochou uma canção. Severino surgiu basicamente como todas as outras músicas da banda, com letra e melodia do vocalista. Mas a coisa não aconteceu simples e rapidamente. Para se tornar um novo single, essa composição passou por muitos testes sobre o melhor arranjo. “Isso particularmente me exigiu um cuidado a mais para a colocação da guitarra em Severino, porque eu quis que ela tocasse uma melodia paralela ao vocal no refrão, mas mantendo certa leveza e a marcante tristeza presente em toda a letra, que de cara me remeteu a uma profunda solidão urbana”, explica Caramuru.

O solo de guitarra surgiu e foi montado a partir dessa impressão, segundo afirma o guitarrista, a fim de manter o fluxo melancólico em cada nota até o final, mas morrendo em algo mais alegre, esperançoso. Daí saiu o coro de vozes, que ele mesmo criou e executou, sob o solo de teclado de Wellington de Melo, que soube incorporar com maestria seu instrumento desde a introdução, já pensada como uma espécie de pergunta e resposta entre cordas e teclas. Bernardo, o contrabaixista, teve uma ótima sacada, bem lembrado por Caramuru, “desenhou uma linha de baixo que deixou a coisa toda mais elegante, vestindo o vocal que, por zelo, precisou ser gravado uma segunda vez”. Segundo o contrabaixista, ficou muito interessante também o que o seu instrumento fez na música ao dar entrada para os outros instrumentos, após a introdução do piano e da guitarra, ajudando a apresentar o clima de nostalgia esperançosa para o resto da canção.

“Essa música, pra mim, marca um salto da banda, tanto em aspectos artísticos, quanto em outros mais técnicos, como o universo minucioso que é o processo de uma gravação, lá dentro do estúdio, ou da importância de uma boa mixagem, que abrace o que a música pede, por exemplo”, observa Caramuru. Para isso, a banda contou com os conhecimentos de Lucas Castro, conhecido como Lucão, que comanda o Taj Mahouse Studio Pub, e da mixagem de Lugh Senderson, que sempre apoiou a banda desde a sua fundação. Lugh, agora, está trabalhando com a Chá de Gim de forma sistemática, por intermédio da Awen Studio. Segundo relatam os músicos, esses dois profissionais não descuidaram em nenhum momento da questão técnica, acompanhando e instruindo qual a melhor forma de se chegar à sonoridade desejada por eles.

Disponível nas plataformas Youtube, Spotify, Google Play e Deezer.